Cérebro de Maguila será usado para estudos; entenda motivo

José Adilson Rodrigues dos Santos, mais conhecido como Maguila, um dos grandes ícones do boxe brasileiro, faleceu nesta quinta-feira, dia 24, aos 66 anos. O lutador enfrentou há 18 anos uma batalha contra a demência pugilística, uma condição degenerativa que afetou muitos ex-boxeadores devido aos constantes impactos na cabeça. O caso de Maguila se tornou um estudo clínico de grande relevância, especialmente por conta de sua decisão de, em vida, fazer seu cérebro para pesquisa científica, com o intuito de ajudar no avanço dos estudos sobre a doença.

O legado de Maguila transcende o ringue, e sua contribuição para a ciência certamente será lembrada. A doação de seu cérebro, realizada ainda em 2018, foi recebida pela Universidade de São Paulo (USP), onde será estudada por especialistas na área. Segundo Renato Anghinah, médico responsável pela pesquisa, receber cérebros de pessoas que enfrentam doenças como a demência pugilística é essencial para que a medicina compreenda melhor a evolução e prevenção dessas condições, além de desenvolver estratégias para reduzir os impactos futuros em outros indivíduos.

A doação do órgão foi um gesto de generosidade e visão de Maguila, que, mesmo enfrentando as dificuldades de sua própria condição, quis ajudar o avanço do conhecimento médico. A expectativa é que os realizados pela USP possam contribuir para a criação de tratamentos que melhorem a qualidade de vida de pessoas que estudam doenças neurodegenerativas causadas por traumas repetitivos, como ocorrem no boxe e em outros esportes de contato.

A notícia de sua morte foi divulgada ao vivo durante o programa Balanço Geral , da Record TV, apresentado por Reinaldo Gottino. Em um momento emocionante, a esposa de Maguila, Irani Pinheiro, acabou detalhes dos últimos dias do lutador e falou sobre o estado de saúde do marido. Segundo ela, Maguila ficou debilitado e passou por um período de internação de 28 dias, onde decidiu complicações como um acúmulo de dois litros de água no pulmão, que precisaram ser removidos.

Além do problema na divulgação, Maguila apresentou também um nódulo, que, infelizmente, não houve tempo de examinar com uma biópsia. As complicações surgiram após ele relatar fortes dores abdominais, o que levou à descoberta das condições que agravaram ainda mais seu quadro clínico. Mesmo em meio a essas dificuldades, Maguila manteve o carinho e o apoio de sua família, deixando como legado a esposa e três filhos.

A luta de Maguila contra a demência pugilística trouxe à tona debates importantes sobre a saúde dos atletas e os riscos a que estão expostos. Sua história serve de alerta para os cuidados com a saúde mental e física de boxeadores e de outros profissionais envolvidos em esportes de contato. A demência pugilística, também conhecida como encefalopatia traumática crônica (ETC), é uma condição que se manifesta com sintomas como perda de memória, dificuldades cognitivas e, em estágios mais avançados, alterações graves no comportamento.

Ao longo dos anos, o caso de Maguila se tornou referência para pesquisadores e especialistas específicos em estudar os efeitos a longo prazo dos traumas repetitivos sofridos no boxe. A dedicação de Maguila à ciência, ao fazer seu cérebro, reflete seu compromisso em ajudar as próximas gerações de atletas e pacientes que enfrentam doenças semelhantes. Esse ato de coragem e altruísmo abre portas para avanços na compreensão da ETC e suas implicações.

Maguila conquistou o coração dos brasileiros com suas lutas e sua simpatia fora dos ringues. Ele representou o Brasil em diversas competições e conquistou títulos importantes, tornando-se um dos nomes mais respeitados do esporte. Sua morte deixa uma lacuna no boxe nacional, mas também marca um novo capítulo para a ciência médica, que, através de sua contribuição, ganha uma oportunidade de avanço em seus estudos.

A pesquisa envolvendo a demência pugilística ainda está em fase inicial, mas a doação do cérebro de Maguila será uma peça-chave para o entendimento dessa condição. Estudos recentes apontam que o impacto constante na cabeça durante anos pode provocar uma série de alterações no cérebro, que se agravam com o tempo. Com essa ação, esperamos que os cientistas possam desenvolver melhores métodos de diagnóstico e tratamentos preventivos.

A esposa de Maguila, Irani, destacou a força e a resistência do marido ao longo de sua vida, tanto nas lutas quanto no enfrentamento de sua doença. Segundo ela, Maguila era uma pessoa determinada, que conquistou até o fim com bravura. Mesmo diante dos desafios, ele nunca deixou de ter esperança e fé na ciência e no progresso dos estudos sobre sua condição.

O impacto de Maguila no esporte e na sociedade é inegável, e sua trajetória inspirada continuará sendo lembrada. Sua luta pela vida e seu compromisso com a ciência mostram que seu legado vai além dos títulos e conquistas. Ele será lembrado não apenas como um campeão no ringue, mas também como um herói fora dele, que buscou ajudar as futuras gerações.

A família de Maguila, seus amigos e fãs agora se despedem de um lutador incansável, que jamais abandonou seu espírito esportivo. Sua generosidade e sua dedicação à pesquisa refletem o amor que ele tinha pelo esporte e pelo bem-estar das pessoas. Maguila deixa, assim, um legado de coragem, luta e, acima de tudo, de compaixão e esperança.

Com essa contribuição, Maguila entra para a história não apenas como um dos maiores lutadores do Brasil, mas como um verdadeiro pioneiro no apoio à ciência e à medicina esportiva. Sua trajetória prova que, mesmo em momentos difíceis, é possível fazer a diferença e ajudar a construir um futuro melhor para todos.